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09 agosto 2010

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The Doors

A nova edição da revista Classic Rock mostra até agora o mais detalhado relato dos últimos dias de Jim Morrison, incluindo uma entrevista com Sam Bernett, o homem que reivindica que Morrison morreu na boate que estava gerenciando naquela noite, a Rock’N’Roll Circus. E a Classic Rock Magazine publicou em um texto online os relatos de Bernett do que aconteceu naquela noite fatal, cuja tradução segue abaixo:

Entrevista: Max Bell

Sam Bernett: Eu estava na boate aquela noite, 2 de julho, e Jim entrou por volta da uma da manhã, 3 de julho. Ele estava no bar, como era usual. Ele estava com alguns amigos que eu não conhecia. Ele estava esperando as pessoas trazerem alguns produtos para Pamela (nota do tradutor: ex-namorada de Jim Morrison). Ele estava esperando. Ele bebia, nós nos falamos, eu o ouvia. Eu estava ocupado como o gerente do clube. Eu não estava sempre próximo a ele. Eu trouxe a ele alguns drinks. Alguns caras vieram e então, por uns 20 minutos, ele não estava mais no bar. Ele desapareceu. Então a garota responsável pela chapelaria do andar de cima… me procurou.

Ela estava preocupada porque uma porta tinha sido trancada já havia um bom tempo e as pessoas estavam reclamando que não conseguiam entrar. Eles bateram na porta, alguém aí? Sem resposta. Então eu verifiquei com ela. Nenhuma resposta mesmo. Eu não sabia que Jim estava atrás da porta. Eu chamei meu segurança para arrombar a porta e lá dentro estava Jim. Sentado no banheiro sem reação, como se estivesse dormindo ou nocauteado, suas calças ligeiramente abaixadas. Ele estava sentado com sua cabeça para baixo e seus braços para baixo, como um cara morto.

Eu o agitei. Eu o olhei no rosto, sem reação. Ele tinha espuma no nariz e nos lábios. Eu falei para a garota conseguir um médico. Eu tinha um amigo, um cliente, lá toda noite – ele estava no clube. Ele veio, olhou para Jim, e começou um pequeno check-up. (Então) ele me olhou e disse: “Esse cara está morto”. Eu disse imediatamente: “Chamem os bombeiros, os paramédicos!” De repente dois caras que tinham estado no clube com Jim vieram e disseram: “Ele não está morto, ele só está um pouco acabado. Não chamem a polícia, não chamem sua família, nós o levaremos de volta pra casa”

Eu disse: “Não, isto é impossível. Nós temos que chamar a polícia e os médicos”. “Não”, eles disseram, “esqueça. Nós o levaremos para fora do clube. Nós podemos usar a porta dos fundos? Não a porta da frente”. “Não! Não podem”. Então o dono da boate foi chamado, todo mundo se dispersou – não Paul Pacini (o dono da boate), o braço direito de Jim. Ele disse: “Não chamem a polícia, nós não queremos encrenca. Eles fecharão o clube e nós teremos um escândalo”

Eu disse: “Você não pode fazer isso“. E ele disse: “Eu sou o chefe, você faz o que eu digo”. Os dois caras o pegaram e o levaram para fora do clube através do Alcazar (o clube vizinho ao Circus), então o levaram para a porta de entrada do clube oposto à Rua de Seine e que dá entrada para o Circus. O clube estava fechado, o cabaré tinha acabado, exceto poucas pessoas que olhavam para ver o que estava acontecendo.

A partir daí eu não sei o que aconteceu. Eles o levaram para o apartamento. Eles me contaram que o colocaram na banheira e esperaram por uma hora e meia as pessoas chamarem os paramédicos. Pâmela estava no apartamento, fora de si, gritando. Estava completamente transtornada.

Quando eu escrevi meu livro (publicado na França em 2007, The End – Jim Morrion) (nota do tradutor: O fim – Jim Morrison) eu fui à polícia e aos paramédicos. O bombeiro me contou que ele sabia que Jim tinha morrido mais cedo. “Esse cara já estava morto por algumas horas”. O comissário de polícia me contou a mesma coisa: “Nós sabíamos que havia alguma coisa errada com a história”. Eu não sei o porquê, mas ele disse: “É verão – olhe, eu estou saindo de férias amanhã”. Ele queria encobrir algo rapidamente, então ele assinou os papéis. Ele não acreditou na história que lhe contaram no apartamento. Foi estranho e falso, mas ele já tinha ido.

Eu não pude te contar [os nomes de] algumas pessoas que estavam no clube. Eu não pude colocá-los no meu livro [por razões legais]. Mas eu estou dando a vocês meu relato de vítima. O que aconteceu depois e o porquê dos policias e todo mundo mais que não me contaram a verdade, que encobriram algo, eu não entendo. Meu amigo médico estava certo de que Jim estava morto. Eu não irei dizer seu nome porque ele está morto, mas sua família ainda está viva.

Eu esperei 35 anos para contar minha história porque eu fiquei de saco cheio com as pessoas me fazendo perguntas toda as vezes em que a data da morte de Jim está próxima. Minha esposa disse: “Pare de se lamentar e escreva seu livro então”. Eu não mantive minha boca fechada antes disso – eu apenas não fui à imprensa por vontade própria. Eu me lembro de um jantar em que eu estava sentado próximo à mãe do Oliver Stone – isso foi quando ele estava fazendo o filme de Jim e dos The Doors. E eu contei a ela: “Olhe, eu sei o que aconteceu, se seu filho estiver interessado”. Eu contei a ela o que eu sabia, porém Stone não se incomodaria com aquela versão. Talvez ela nunca tenha lhe contado. Mas você sabe, a versão americana da morte do Jim é tolice. Sem sentido. A versão francesa está perto da verdade. Os americanos são ingênuos.

Você já chegou a pensar que o episódio da heroína foi apenas um horrível engano? Que ele pensou que estivesse tomando cocaína, por exemplo?

Sam Bernett: Sim, eu penso freqüentemente que ele tomou heroína por engano. É possível, claro. Ou era a heroína para Pâmela ou na verdade para ele? Mas não foi a primeira vez que ele se drogou. Eu não acho que ele estava tentando cometer suicídio. Não havia razão para ele cheirar heroína 90% pura, mas talvez aquilo foi seu erro. Aquela coisa era forte o suficiente para matar você em menos de um minuto se você não soubesse o que estava fazendo.

Mas você vê, a heroína era muito comum no cenário underground em Paris, especialmente entre os músicos. Muito mais comum do que a cocaína que ainda era muito rara. A heroína era grande com o “demi monde, a la mode” com pessoas como Chet Baker (nota do tradutor: trompetista famoso de jazz norte-americano), a droga circulava especialmente com os caras do jazz nos clubes no Latin Quarter.

Quanto a Morrison, eu sei que ele ficava de saco cheio de ser um artista pop. Ele queria ficar em Paris e escrever sua poesia. Isso é o que ele sempre me contou. "Estou cansado de The Doors. Eu quero desistir".

E ele fez isso. Ele desistiu para sempre.


Fonte desta matéria (em inglês): Classic Rock Magazine

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